“Sou o que se chama de pessoa
impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um
sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que
imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que
agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente,
o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples
infantilidade.
Trata-se de saber
se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso
controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os
resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais
adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um
dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma
alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá
sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca
serei.”
[Textos extraídos do livro
Aprendendo a viver, de Clarice Lispector]